terça-feira, 2 de outubro de 2007

Todo castigo para corno é pouco

O sol me acordou
O vento me despertou
Lá embaixo eu a via, toda de negro desesperada com a morte do marido, do meu inimigo
Uma mistura de alegria e compaixão preenchia meu ser
Será que deveria consolá-la?
Lala chorava como criança e seus gritos me davam assustosamente esperança
A vizinhança não deixava de fitar os olhos em mim
Será que Lala vai ficar com ele agora?
Embora não quisesse tive que acompanhar o enterro
Flores e rosas encima do caixão e apenas as lágrimas de Lala mechia com meu coração
Queria abraçá-la, mas Lala se irritaria
Passou o dia, todos foram e lá só Lala, o corno morto e eu
Derrepende o portão do cemitério se fecha
Lala, eu e agora o alívio e talvez alegria
Ela aperta minhas mãos
Eu aperto as dela
Respiração ofegante
Calor irritante
Agora Lala, o defunto, eu, o calor, o escuro e a ocasião
Aperta mais forte minha mão
Aperto mais forte ainda a dela
Num istante um instinto de cadela viciada toma conta dela
Num instante uma ferocidade de cavalo inteiro faz eu tomar ela
Ali mesmo no túmulo aplumo aquela recem viúva
O calor aumenta, os gritos esquenta
A lua ilumina a noite sombria, o local escuro e o amor absurdo
O ritmo aumenta
Lala cadela e eu nela
Os sussurros atentam
Eu, inteiro e ela, cadela
Horas demais
Posições incapaz
A noite não tem fim
A loucura não tem fim
Eu escravo do pecado, ela escrava do pecado prazeroso
Eu um louco, ela cadela louca
O sol enfim
Roupas no chão
Flores no chão
O portão se abre
Lala cadela, eu pecado...E seu marido morto
Lala cadela, eu inteiro, a noite inteira como um cavalo inteiro no derradeiro adeus ao marido morto corno
Lala cadela e eu um louco, pois todo castigo para corno é pouco.

Glauco Viana

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